domingo, 6 de dezembro de 2015

idiomas & fronteiras



Estive nas duas edições do encontro nacional do programa Idiomas sem Fronteiras, em Brasília, um no final de 2014 e outro no final de 2015, há alguns dias, sobre o qual mencionei no meu post inaugural (abaixo). No primeiro encontro, enchemo-nos de esperança e coragem! Especificamente nós, representantes do português, recebemos a recomendação de montar os cursos de PLE, que ainda não existiam em muitas universidades, como a minha. E assim fizemos. Montamos cursos, selecionamos voluntários para ministrá-los, aprendemos conjuntamente, eu e esses valentes alunos de Letras, na marra, muita coisa sobre o que é ensinar o português como uma língua estrangeira, o que é muito diferente de ensiná-lo para falantes nativos, de língua materna. A esperança, a promessa no ar naquele encontro de 2014, era a de que no ano seguinte, viriam os recursos, mas primeiro deveríamos ter os cursos montados. O ano seguinte, porém, foi este ano de 2015. O ano dos cortes e do aperto orçamentário, da crise política, da crise social que uma querida colega filósofa chama de crise ética. Chegamos a Brasília em novembro deste ano, e o segundo encontro do IsF tinha um tom diferente. Estava mais para um congresso, cujo tema era a internacionalização das universidades, e nós seríamos os ouvintes. Confesso que cheguei lá cheia de vontade (vide o tom do meu post inaugural) de contar os resultados do trabalho que desempenhamos voluntariamente ao longo de 2015 em Diamantina, mas quem falou foram alguns pesquisadores estrangeiros, melhor dizendo europeus, comentando sobre a internacionalização em seus respectivos países, continente e hemisfério. Apesar de interessantes as apresentações, principalmente as das mulheres, que sempre têm uma abordagem mais humana das questões, a uma certa altura, eu me perguntei o que é que estávamos fazendo ali. Havia um representante de cada língua de cada universidade federal, e somos 63 universidades. Era bastante gente. Contudo, não havia um espaço específico para trocar idéias com os outros representantes do português, o que eu queria muito fazer. O pessoal das outras línguas - que não o inglês - também sentiram o mesmo. Além disso, não havia um feedback do “núcleo gestor” para nós. Parece que nos levaram lá para enchermos o auditório, e não para trocarmos idéias sobre nosso trabalho no programa. Então, a uma certa altura, peguei o microfone para perguntar sobre uma direção, um encaminhamento ou alguma sugestão para o ano de 2016, e recebi a seguinte resposta: “continue investindo”. Pra mim foi um balde de água fria. Não que eu não esperasse o enxugamento do orçamento, mas acreditei que haveria um plano B, ou pelo menos um cuidado do pessoal da gestão do IsF para conosco, representantes das línguas ainda não financiadas, principalmente para as que já estão funcionando nas universidades, como é o caso do português (pois os estudantes estrangeiros continuam chegando). Voltei pra casa então com uma sensação de rabo entre as pernas. Não desisti de “investir” no PLE na minha universidade, e ainda estou cheia de idéias sobre o assunto, inclusive com algumas pesquisas em andamento. Apesar do sonho e da ambição, talvez um pouco desmedida, do pessoal do IsF de criar uma verdadeira e ampla política linguística para o Brasil, ficou óbvio que ainda temos muitas fronteiras para transpor.