domingo, 27 de agosto de 2017

Poemas da Terra ao Céu

Escrevi o texto a seguir para apresentar a exposição de pinturas e desenhos da minha amiga e irmã de busca espiritual Gisele Moura, a pedido seu. A exposição aconteceu na Assembleia Legislativa de MG, em março deste ano. O texto foi usado na entrada da exposição e no convite impresso.

As imagens abaixo são de 3 obras presentes na exposição. Para conhecer mais desse belíssimo, sutilíssimo e inspiradíssimo trabalho, visite o blog de Gisele Moura.

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"Poemas da terra ao céu" (exposição de pinturas de Gisele Moura)

Um simbolismo expresso pelo antigo poeta indiano Kabir nomeia a exposição da artista plástica Gisele Moura: as árvores são como poemas que a Mãe Terra escreve e oferece ao Pai Céu. Os temas dessas telas são as árvores e outras oferendas que a terra dedica ao céu – seres da fauna e da flora de nosso planeta. A terra gera e nutre a matéria viva que inspira a arte. O poeta risca a superfície do papel, desenhando com sua pena os símbolos que são palavras. A pintora risca a superfície da tela, escrevendo com seu pincel os símbolos que são traços.

Os símbolos representam, comunicam e servem como oferendas. Têm, porém, outro lado: só representam aquilo que por natureza não são. Estas palavras não pretendem, assim, refletir com exatidão o trabalho de Gisele; não são seus substitutos. Os quadros, além disso, exigem um esvaziamento verbal. Falam a outros níveis de nossa percepção. Direcionam-se para além da razão. Comunicam, mas no silêncio da contemplação.

Percorremos nas pinturas as curvas sinuosas, mas equilibradas, dos padrões e fractais orgânicos. Rememoramos que há um design artístico nos enquadramentos naturais, nas paisagens sazonais e nas criaturas vivas. As obras comunicam uma delicadeza explícita e invocam um certo misticismo. Trazem também uma qualidade menos evidente – a tenacidade, um tipo discreto, mas nem por isso diminuto, de força. Essa poderosa combinação resulta no impressionante caráter feminino das telas.

A terra simboliza o feminino, sua capacidade criadora, sua generosidade paciente e misteriosa. O céu simboliza o masculino, abrangendo a velocidade do vento e as nuvens da razão e do intelecto. Assim como as árvores e os poemas, os quadros de Gisele Moura comunicam a feminilidade aos céus mais sensíveis, proferindo uma importante mensagem neste tempo de temores e incertezas: há beleza neste planeta. E há beleza no que a mão humana é capaz de criar, símbolo, por sua vez, de outra, gloriosa e infinita Criação.