quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Corpo Celeste

Corpo Celeste é o nome do meu primeiro livro de poesia, publicado este ano pela editora Crivo, em julho. Ele reúne 57 poemas selecionados dentre os mais de 200 que escrevi ao longo de 12 anos, como conta o release abaixo, que serviu para divulgação do lançamento nas mídias de BH. 
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A escrita como terapia. "Escrever para conhecer, mais que para transmitir" – é um verso do poema "Criptomania", que integra o livro Corpo Celeste, da poeta Luisa Godoy, lançado este mês pela Crivo.

Relacionamentos, rompimentos, nascimentos e renascimentos. O desejo, a perda e o encontro. A incompreensão e a negação da versão da mulher sobre sua própria experiência. A descoberta de um poder feminino oculto, mas inegável – um canal "entre aqui e o céu", como conta o poema "Profetas". A escrita como registro e redenção. O papel em branco como um ombro amigo, um ouvido. Um lugar secreto e individual para se entender e se libertar. "Um momento de insuspeita liberdade", como num verso do poema “A prosa e a rosa”.

Esses e outros temas sobre a vida interior e a jornada de autoconhecimento de uma mulher são o fio narrativo que perpassa os 57 poemas de Corpo Celeste, o primeiro livro da linguista e professora Luisa Godoy, escritos no intenso período de mudanças e descobertas entre os 23 e os 35 anos de idade.

Corpo Celeste terá seu lançamento oficial, com sessão de autógrafos, no dia 1º de julho de 2017, sábado, no Estabelecimento Bar (Rua Monte Alegre, 160 – Serra), a partir das 11 horas.

FICHA TÉCNICA

Autora: Luisa Godoy 
Ilustração e design gráfico: Rafael Godoy
Editora: Crivo Editorial

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Em seguida, fotos da capa, verso e orelhas do Corpo Celeste, que traz um depoimento do meu pai Guga. A belíssima ilustração da capa, do "Sobre a autora" e o design do livro como um todo são do Rafa, meu primo e parceiro. 






domingo, 27 de agosto de 2017

Poemas da Terra ao Céu

Escrevi o texto a seguir para apresentar a exposição de pinturas e desenhos da minha amiga e irmã de busca espiritual Gisele Moura, a pedido seu. A exposição aconteceu na Assembleia Legislativa de MG, em março deste ano. O texto foi usado na entrada da exposição e no convite impresso.

As imagens abaixo são de 3 obras presentes na exposição. Para conhecer mais desse belíssimo, sutilíssimo e inspiradíssimo trabalho, visite o blog de Gisele Moura.

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"Poemas da terra ao céu" (exposição de pinturas de Gisele Moura)

Um simbolismo expresso pelo antigo poeta indiano Kabir nomeia a exposição da artista plástica Gisele Moura: as árvores são como poemas que a Mãe Terra escreve e oferece ao Pai Céu. Os temas dessas telas são as árvores e outras oferendas que a terra dedica ao céu – seres da fauna e da flora de nosso planeta. A terra gera e nutre a matéria viva que inspira a arte. O poeta risca a superfície do papel, desenhando com sua pena os símbolos que são palavras. A pintora risca a superfície da tela, escrevendo com seu pincel os símbolos que são traços.

Os símbolos representam, comunicam e servem como oferendas. Têm, porém, outro lado: só representam aquilo que por natureza não são. Estas palavras não pretendem, assim, refletir com exatidão o trabalho de Gisele; não são seus substitutos. Os quadros, além disso, exigem um esvaziamento verbal. Falam a outros níveis de nossa percepção. Direcionam-se para além da razão. Comunicam, mas no silêncio da contemplação.

Percorremos nas pinturas as curvas sinuosas, mas equilibradas, dos padrões e fractais orgânicos. Rememoramos que há um design artístico nos enquadramentos naturais, nas paisagens sazonais e nas criaturas vivas. As obras comunicam uma delicadeza explícita e invocam um certo misticismo. Trazem também uma qualidade menos evidente – a tenacidade, um tipo discreto, mas nem por isso diminuto, de força. Essa poderosa combinação resulta no impressionante caráter feminino das telas.

A terra simboliza o feminino, sua capacidade criadora, sua generosidade paciente e misteriosa. O céu simboliza o masculino, abrangendo a velocidade do vento e as nuvens da razão e do intelecto. Assim como as árvores e os poemas, os quadros de Gisele Moura comunicam a feminilidade aos céus mais sensíveis, proferindo uma importante mensagem neste tempo de temores e incertezas: há beleza neste planeta. E há beleza no que a mão humana é capaz de criar, símbolo, por sua vez, de outra, gloriosa e infinita Criação.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Segredos semânticos


A língua guarda segredos, ou talvez a língua esconda verdades. No estudo da semântica da língua, descobrimos coisas interessantes sobre a maneira como vemos o mundo. Por exemplo, estudando a semântica dos verbos, nos deparamos com o conceito de causa, presente no sentindo de inúmeros verbos como abrir, fechar, quebrar, assustar, esconder e muitos muitos outros. Em português, eu não saberia dizer quantos verbos têm a ideia de causa dentro de seu significado. Mais de mil, sem dúvida. E há cerca de 6000 verbos em português. O interessante da ideia de causa – o “segredo” ou  “verdade” escondida – é que aquilo que dizemos causar outra coisa (por exemplo, quando falamos o menino fechou a porta, o menino é a causa de a porta ter fechado), na verdade, é apenas um acontecimento que potencialmente desencadeia outro, mas não necessariamente o determina. Por exemplo, o menino fez uma força enorme empurrando a porta da entrada do castelo para que ela fechasse e o protegesse do ataque do exército Uno (delírios semânticos fazem parte das análise, juro), mas a porta era muito pesada e não fechou. Isso nos mostra que, quando ele de fato consegue fechar uma porta (mais leve, que fica na entrada do seu quarto, por exemplo), foi a própria porta que o permitiu, pois era leve. Agora peguemos um verbo que na Linguística chamamos de “psicológico”, como assustar, e que também tem a ideia de causa. Quando Maria assusta João (com sua fantasia de zumbi), é o João que de certa forma “escolhe” se assustar com a fantasia da Maria. Num dia mais meditativo, concentrado, João decidiu resistir aos sustos frequentes que toma da amiga (delírios…). Maria vestiu a mesma fantasia, mas João estava preparado… ela fez a mesma coisa (por exemplo, gestos fantasmagóricos), mas dessa vez ele não se assustou! Ou seja, não é a Maria que assusta o João no final das contas, mas ele que se assusta com algo que ela faz. Isso é incrível, está dentro da semântica da língua e revela uma sabedoria profunda e inconsciente sobre a nossa experiência humana sobre esta Terra: a de que não somos tão joguetes do destino assim (citando Shakespeare). Podemos não reagir, ainda que tenhamos que nos preparar bastante, como João, ao que nos acontece. Quando dizemos “Fulano me irrita”, a semântica pode nos ajudar a dizer/pensar “eu é que me irrito com algo que Fulano faz”. E adicionar: “não me irritarei mais, de agora em diante, pois escolho estar em paz”. Pois a causa não é determinante, é apenas propiciadora dos acontecimentos subsequentes. Sobre os acontecimentos-causa não temos controle, mas, por mais difícil que seja, temos poder de escolha sobre os acontecimentos reativos.

domingo, 6 de dezembro de 2015

idiomas & fronteiras



Estive nas duas edições do encontro nacional do programa Idiomas sem Fronteiras, em Brasília, um no final de 2014 e outro no final de 2015, há alguns dias, sobre o qual mencionei no meu post inaugural (abaixo). No primeiro encontro, enchemo-nos de esperança e coragem! Especificamente nós, representantes do português, recebemos a recomendação de montar os cursos de PLE, que ainda não existiam em muitas universidades, como a minha. E assim fizemos. Montamos cursos, selecionamos voluntários para ministrá-los, aprendemos conjuntamente, eu e esses valentes alunos de Letras, na marra, muita coisa sobre o que é ensinar o português como uma língua estrangeira, o que é muito diferente de ensiná-lo para falantes nativos, de língua materna. A esperança, a promessa no ar naquele encontro de 2014, era a de que no ano seguinte, viriam os recursos, mas primeiro deveríamos ter os cursos montados. O ano seguinte, porém, foi este ano de 2015. O ano dos cortes e do aperto orçamentário, da crise política, da crise social que uma querida colega filósofa chama de crise ética. Chegamos a Brasília em novembro deste ano, e o segundo encontro do IsF tinha um tom diferente. Estava mais para um congresso, cujo tema era a internacionalização das universidades, e nós seríamos os ouvintes. Confesso que cheguei lá cheia de vontade (vide o tom do meu post inaugural) de contar os resultados do trabalho que desempenhamos voluntariamente ao longo de 2015 em Diamantina, mas quem falou foram alguns pesquisadores estrangeiros, melhor dizendo europeus, comentando sobre a internacionalização em seus respectivos países, continente e hemisfério. Apesar de interessantes as apresentações, principalmente as das mulheres, que sempre têm uma abordagem mais humana das questões, a uma certa altura, eu me perguntei o que é que estávamos fazendo ali. Havia um representante de cada língua de cada universidade federal, e somos 63 universidades. Era bastante gente. Contudo, não havia um espaço específico para trocar idéias com os outros representantes do português, o que eu queria muito fazer. O pessoal das outras línguas - que não o inglês - também sentiram o mesmo. Além disso, não havia um feedback do “núcleo gestor” para nós. Parece que nos levaram lá para enchermos o auditório, e não para trocarmos idéias sobre nosso trabalho no programa. Então, a uma certa altura, peguei o microfone para perguntar sobre uma direção, um encaminhamento ou alguma sugestão para o ano de 2016, e recebi a seguinte resposta: “continue investindo”. Pra mim foi um balde de água fria. Não que eu não esperasse o enxugamento do orçamento, mas acreditei que haveria um plano B, ou pelo menos um cuidado do pessoal da gestão do IsF para conosco, representantes das línguas ainda não financiadas, principalmente para as que já estão funcionando nas universidades, como é o caso do português (pois os estudantes estrangeiros continuam chegando). Voltei pra casa então com uma sensação de rabo entre as pernas. Não desisti de “investir” no PLE na minha universidade, e ainda estou cheia de idéias sobre o assunto, inclusive com algumas pesquisas em andamento. Apesar do sonho e da ambição, talvez um pouco desmedida, do pessoal do IsF de criar uma verdadeira e ampla política linguística para o Brasil, ficou óbvio que ainda temos muitas fronteiras para transpor.